Último voo da empresa ligando São Paulo a Tóquio saiu ontem à noite do aeroporto de Guarulhos; companhia passa por processo de reestruturação
Ontem à noite, às 22h55, a Japan Air Lines (JAL) fez o último voo entre São Paulo e Tóquio. O fim das operações no Brasil é resultado do plano de reestruturação da companhia aérea japonesa, que desde janeiro está em concordata.
A empresa abriu o escritório no Brasil em 1978, depois de três anos de parceria com a Varig. A tripulação chegou a ter 70 brasileiros para atender a cinco voos semanais. Recentemente passou a ter apenas dois voos. Nos últimos tempos os tripulantes não passavam de 15.
Atualmente ainda há no escritório e no Aeroporto Internacional de Guarulhos por volta de 40 funcionários. Segundo Shigehiko Komatsu, um dos executivos da JAL no País, os demais funcionários deverão ser demitidos até dezembro, quando o escritório será fechado.
No fim de agosto, a direção da JAL anunciou que demitiria um terço do total de trabalhadores. O corte, ao final do processo, colocará na rua 16.114 funcionários, de um total de 48.714.
No Brasil, a partir de dezembro, quando o escritório deixará de funcionar, as passagens da JAL serão vendidas por meio de parceria com a TAM e a American Airlines. "Passaremos a vender apenas passagens a partir dos Estados Unidos e da Europa para o Japão", explica.
Segundo Komatsu, o clima entre os funcionários "não é de tristeza, mas de lamentação". "O Brasil tem um mercado muito grande. O que não falta é passageiro. É uma pena que o trecho tenha entrado no plano de reestruturação da companhia", afirma o executivo.
A taxa média de ocupação dos voos entre São Paulo e Tóquio, de acordo com a empresa, é de 85% - considerada boa para trechos internacionais. Ontem, no dia da despedida, 90% das poltronas estavam ocupadas, de um total de 303 assentos. Para Komatsu, numa situação como essa, o governo brasileiro poderia ter agido para tentar manter os voos entre os dois países. "O Brasil tem mercado", salienta.
Não houve nenhum tipo de festa de despedida. Apenas um agradecimento feito pela equipe de bordo e o comunicado aos passageiros de que aquele era o último voo. O plano de reestruturação da JAL não prevê uma data para a possível volta dos voos.
Embraer. Enquanto aperta o cinto e corta voos, a JAL tem procurado reforçar o atendimento nas rotas regionais. Tanto que, apesar do enxugamento do quadro de funcionários e de voos, a empresa manteve as encomendas feitas à Embraer de dez aviões do modelo 170, configurados para 76 lugares.
Na semana passada, foi entregue o oitavo avião, e a empresa não falou até agora sobre possíveis cancelamentos. Além dos pedidos confirmados, há outras cinco opções que ainda podem se tornar encomendas firmes.
Concorrente. Enquanto isso, a principal concorrente, a All Nippon Airways (ANA), procura aproveitar as brechas da JAL para crescer. Há duas semanas a companhia assinou uma parceria com o grupo chinês First Eastern Investiment Group, que pretende criar a primeira companhia aérea de baixo custo do Japão. O início das operações está previsto para o segundo semestre de 2011.
A ANA entraria com 39% do capital, o First Eastern com 33,3% e o restante seria diluído entre investidores japoneses e estrangeiros.
Por aqui, a TAM tem operações de compartilhamento de assentos (code share) com a ANA por meio da aliança Star Alliance, mas também tem um acordo de reserva de assentos com a JAL. Com o fim dos voos da JAL entre Brasil e Japão, a aposta do mercado é que a concorrência aproveite a brecha para crescer.
Para entender
Reestruturação prevê extinção de rotas
Com uma dívida de R$ 45,2 bilhões, a JAL protagonizou a mais grave crise de uma companhia não financeira japonesa, o que a obrigou a deixar de ter suas ações listadas na Bolsa de Tóquio.
A JAL recorreu à concordata em janeiro deste ano e apresentou ao governo um plano de reestruturação, com foco no corte de gastos, que inclui a extinção de 45 rotas - 30 delas domésticas e 15 internacionais. A proposta da direção da empresa de reduzir despesas foi a forma encontrada de costurar um aporte de capital da Enterprise Turnaround Initiative Corp. of Japan, entidade do governo japonês que está apoiando a reestruturação.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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