quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Agências resistem à crise

O Estado de S. Paulo
Assunto: Na Liberdade, agências resistem à crise
Data: 06/09/2009 Crédito: Andrea Vialli

Mesmo sem emprego, dekasseguis continuam querendo ir para o Japão
Andrea Vialli
No Bairro da Liberdade, região central de São Paulo, existem pelo menos 100 agências de emprego que se encarregam de preparar a viagem dos dekasseguis ao Japão. Muitas já fecharam as portas - antes da crise financeira internacional - eram mais de 250. Elas cuidam de tudo para quem pretende embarcar. Compram as passagens, providenciam vistos e traduções e, mais importante, têm contato direto com as empreiteiras, as empresas de terceirização de mão de obra no Japão que contratam estrangeiros.
Antes da crise, os brasileiros já saíam do País com emprego garantido no Japão. Hoje, no entanto, não é sempre que isso acontece. "Tem muita agência mandando dekassegui para o Japão sem emprego certo. Chegando lá, a pessoa tem de se virar", diz Makoto Date, sócio da Shigoto.com, agência de empregos e viagens especializada em levar dekasseguis para o Japão.
Date diz, no entanto, que desde dezembro não envia pessoas para trabalhar lá, devido à escassez de emprego. Apenas vende passagens para parentes ou amigos de pessoas que já estão lá, sem fazer a intermediação de emprego. "Apesar da crise, a procura por emprego no Japão nunca deixou de existir. Arrisco dizer que até aumentou, porque o país é visto como um refúgio para muitos descendentes", diz, ele próprio um ex-dekassegui, que morou no Japão por dez anos. Antes do agravamento da crise, a agência enviava em torno de 20 brasileiros por mês ao Japão.
A reportagem do Estado localizou várias agências de empregos para dekasseguis nas imediações da Praça da Liberdade, no coração do bairro paulistano. Arredios, muitos proprietários não quiseram dar informações.
A dona de uma agência, que preferiu o anonimato, afirmou que continua mandando brasileiros ao Japão porque existem vagas, ainda que temporárias e de menor remuneração. "A indústria de alimentos continua contratando, mas são empregos que pagam menos. Os brasileiros preferem trabalhar nas fábricas de autopeças e eletrônicos, mas essas são as que estão deixaram de contratar", diz ela.
SALÁRIO MENOR
Outro reflexo da crise é a queda na remuneração dos trabalhadores estrangeiros. Antes da crise, um trabalhador dekassegui do sexo masculino ganhava em torno de 1.400 ienes, ou cerca de US$ 15 por hora trabalhada. Com a crise, a remuneração caiu a 1.000 ienes.
Cori Passos, sócio de Makoto Date na Shigoto.com, explica que muitos dos dekasseguis que procuram a agência sabem da crise e do desemprego no Japão. "Mas eles ficam sabendo de um ou outro conhecido que conseguiu emprego e resolvem arriscar", diz. A agência até formulou um e-mail padrão que envia aos dekasseguis que estão querendo se aventurar. "No momento, algumas empresas prestadores de serviço tem nos oferecido algumas vagas, porém, por não confiar na idoneidade dos serviços optamos por não recorrer a eles", diz a mensagem padrão.
Passos explica que evita fazer negócios com as chamadas assessorias, empresas que recebem os dekasseguis no Japão e os levam para procurar emprego, porém sem garantias. Muitas agências que continuam levando brasileiros ao Japão recorrem às assessorias e chegam a cobrar R$ 10 mil pela viagem, mesmo sem perspectiva de emprego - valor muito acima do preço da passagem, que custa cerca de R$ 3,2 mil.
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